quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Apenas o Passado.

Apenas o Passado.

Aquilo só poderia ser um pesadelo me atormentando no meio da madrugada.
Porém, os rostos pálidos a minha frente demonstravam ser reais demais.
Minha ajuda era necessária, mas porque eu os ajudaria? Porque sacrificaria minha paz para ajudar seres que eu nem tinha ciência que existiam até essa noite?
Seus sussurros eram ensurdecedores, invadindo minha alma com suas dores e seus temores.
Mas porque temores? Eles já estavam mortos, não tinham que ter medo de nada.
Ainda assim, eles temiam e a muito custo vi que eu era o motivo de tamanha dor e desespero.
Olho para os lados e me dou conta do que estou fazendo, alguns amuletos jogados ao chão. Velas formando um círculo, sal no chão a minha volta, sangue em minhas mãos e em alguns potes dispostos a minha frente.
Eu os estava aprisionando, sabia disso, mas não tinha plena consciência. Porque eles gritavam? porque eu tentava aprisiona-los?
Olho no espelho a minha frente e me vejo, vestido de tafetá negro como a noite, cachos pesados caiam como cascata pelos meus ombros, os olhos verdes penetrantes cheios de malícia e ódio.
Aquilo era meu passado, eu tinha certeza. Saio do transe e me vejo de volta a meu trabalho, uma mesa abarrotada de papéis, um telefone tocando incansavelmente e um livro aberto nas páginas iniciais, uma dedicatória. "Para minha amada neta" e uma foto, a mesma mulher dos meus sonhos, minha avó, eu. Sorrio maliciosamente, o passado poderia vir a tona.

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